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quinta-feira, 1 de março de 2012

A HISTORIA CONTADA - Parte I


A HISTORIA CONTADA POR ALGUÉM QUE ESTEVE AQUI EM 1892 



Este padre foi enviado como representante dum jornal polonês para o Brasil em 1892. Como um aventureiro, historiador, e religioso, relata com detalhes como eram as coisas naquela época. Visitou cidades do Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina; Curitiba, Foz do Iguaçu, Joinville, Desterro, Massaranduba, Jaraguá do Sul, Itajaí e outras.Embora tenha vindo com objetivo de contactar especificamente poloneses no Brasil, conversou com Poloneses, alemães e Russos. Naquela época havia imigrantes em todo lugar em grande número. Achei interessante como se transportavam, como se falava idiomas diferentes, na verdade cada um falava só seu idioma e a comunicação era um desastre. A presença dos Botocudos era aterradora. Quanto valia o dinheiro da época, como eram as construções, como foi o início de várias cidades?
A narrativa é um documento histórico, mas é também uma aventura espetacular. 
           O objetivo dele era mostrar para os polonêses ainda na polônia a vida miserável que os imigrantes no Brasil tinha para convencê-los de não deixarem a pátria. E ele viu de fato isto, mas viu também um outro lado da história como jamais poderia ter imaginado.


(Acompanhe com o Google Mapas, fica mais interessante) 
Texto inteiro no link:http://czytelniabrasil.blogspot.com.br/2010/09/pezygmunt-chelmicki-no-brasil-primeira.html

Fernando








Padre Zygmunt CHELMICKI

NO BRASIL

Anotações de viagens.

Varsóvia, Skład główny w Administracji “Słowa”
Rua Mazowiecka, nr. 11

1892


INTRODUÇÃO

Partindo para o Brasil não imaginava quanto e se de fato conseguiria reunir material mais sério sobre a situação de lá, o que realmente esperavam os emigrantes no além-mar e por outra parte pudesse interessar os leitores.
As minhas anotações esporádicas, enviadas aos periódicos de Varsóvia, não poderiam ter a pretensão de um trabalho mais sério, mas sim­plesmente como relatos do que vi, ouvi e organizei pessoalmente.
Estes pontos  levaram-me a complementar atualmente as minhas ano­tações primitivas e enfeixa-las num todo final. As fotografias por mim trazidas, bem como os desenhos, acabados com sentimento artístico da verdade real pelo Sr. Piątkowiki, oferecerão ao leitor a possibilidade de uma impressão mais objetiva sobre o Brasil.
Entrego o meu trabalho para o proveito do leitor e se o seu fru­to for a dissipação  da última ilusão sobre a “felicidade do além-mar”, se os de boa fé, os irresponsáveis, forem salvos da sorte dolorosa que inevitavelmente os aguarda no Brasil e se, finalmente, formar uma imagem sadia sobre a situação local, serei grandemente recompensado pelos sacrifícios suportados e agradecerei a Deus Todo Poderoso que me permitiu concluir esta missão.
0 Autor
          
            
O dia 9 de março permanecera para sempre em minha memória.
Como sempre, pelo meio dia, estive junto à minha escrivaninha na redação, coletando nos jornais estrangeiros notícias para o “Przegląd Polityczny”.
Em verdade naquele memorável dia para mim, quando, graças as relações tensas entre a oficina e a redação.. 0 relógio apressado apon­tava 12 horas quando entrou Nicolau Glinka e desta feita dirigindo-se diretamente a mim, com breve aperto de mão anunciou:
- Venho com um assunto para o Senhor Reitor!
- Eis – disse – em que posso servir?
Parecia-me que o Senhor Glinka tinha uma fisionomia solene. – Sr. Miecislau e o Sr. Antônio – disse – segurando-me pela mão, peço que queiram apoiar minha causa.
- Redator - disse o Sr. Glinka -  falando curto e objetivamente, você tem que viajar comigo para o Brasil! -          0 que?!     -   partiu   um   grito   em  uníssono   de quatro   lábios. O estimado Conselheiro está em excelente humor- repliquei. - Nunca falei mais seriamente, como neste momento, continuava o Sr. Glinka. Vocês sabem perfeitamente as dimensões que tomou a emigração para o Brasil. Gente com mentes confusas pelas promessas dos agentes, ce­deram à doença formal da emigração. De nada valeram os argumentos e persuasivas. Os senhores – afirmam - tem inveja de nossa felicidade. As advertências dos padres ficam sem efeito. Para a primavera todo ser vi­vo tem intenções de partir para o além-mar. Vós mesmos publicastes car­tas que cortam o coração daqueles que, cedendo a propaganda dos agenciadores, foram para o Brasil.  Os relatórios de Dygasinski são um grito de dor e condenação sobre a sorte destes infelizes. Não ha jeito: É preciso que aqueles que experimentaram a desgraça brasileira, eles próprios  tornem-se aviso e amedrontamento para os de boa fé.  Com esta finalidade, com a permissão das autoridades, deliberou-se trazer de volta algumas centenas destes coitados, oriundos de varias aldeias do pais. Eu, há poucos instantes, acertei esta missão, com a condição, todavia de que iremos em dois. Aconteça o que acontecer, seja qual for o resultado prá­tico de nossa viagem, faremos um ato de caridade; o restante ficara nas mãos de Deus.
Quando o Sr. Glinka terminou,  reinou um profundo silêncio. Todos ficamos sob a impressão de uma proposição tão imprevista.
0 Sr. Glinka não estava errado. Uma hora apôs, minha partida es­tava decidida. Eis como surgiu a minha viagem ao Brasil.
Foi com certo alívio quando, no dia 25 de mar­ço, encontrei-me na estação ferroviária  de Varsóvia, cercado por um grupo de amigos chegados, cujas expressões faciais pareciam dizer: „Confie em Deus e feliz retorno!” e todo aperto de mão  amiga  transmi­tia confiança e coragem. Embarcando  no trem com fé inabalável e espe­rança, disse dentro da minha alma: - Em frente, em nome de Deus!
Foi dado o sinal de partida. 0 trem se movimentou e em meio  a fu­maça somente pude ver o agitar de lenços brancos... Não estive em Berlim, há 19 anos. Em minha memória, Berlim gravou-se como cidade  integralmente prussiana - rígida, oficial, fechada. Por isso, ardorosamente evitava a Capital da Alemanha reunificada, preferindo caminhos mais longos para não tangenciar Berlim. Que enorme diferença encontrei atualmente. Só a entrada do trem na es­tação local é suficiente para pressentir  que nos 19 anos, Berlim mudou sua face  e sua posição,
Aquelas ruas longas, magníficas, brilhando de limpeza, as exposi­ções nas lojas, com excelentes produtos, com casas semelhando palácios juntamente com o movimento febril de multidões, tudo isto era para mim uma novidade surpreendente.
As velhas "lipy" recordavam o antigo aspeto, embora ornamen­tadas com lâmpadas elétricas pendurados em barras de ferro de fabricação prusssiana que ninguém pode tirar.
Às 12 horas, o trem partia para Bremen, havia necessidade de apressar, tanto mais que pretendíamos estar em Paris para a Páscoa e era Quinta-Feira Santa. Seguimos em frente.
Limitamo-nos a colher informações, aqui e acolá, mas superficiais sobre os emi­grantes. De imediato nos  informaram que  ultimamente o número de emigrantes do Reino da Polônia, diminuiu muito. A informação foi unâ­nime e disseram que o último navio que partiu para o Brasil levou apenas umas 30 famílias. Trata-se de emigrantes mais pobres, sem qualquer meios, para quem o Governo Brasileiro paga a passagem. Os outros que possuem qualquer recurso material, geralmente partem para os Estados Unidos.
Todos a quem interrogamos  a respeito dos emigrantes, geralmente começavam sua resposta com esta apostrofe: "Ach, die armen Leute!" e a seguir  citavam  uma série de detalhes sobre a desgraça, abandono e falta de qualquer noção destes pobrezinhos. Parece-me que na opinião dos bremenses eles são sinônimos de miséria, pobreza e  vítimas de fácil credulidade. Por isso pude deduzir com segurança e posso dizer que observei mais compaixão do que inclinação para aproveita­mento e exploração.
Decidimos chegar  a fonte mais rica e ao mesmo tempo mais segura que todos unanimemente indicaram nas pessoas dos padres Schlesser e Prahaz, dirigentes da Sociedade São Rafael que tem por finalidade prestar assitência moral e espiritual aos emigrantes.
Essa Sociedade foi fundada em 1872 no Congresso Católico de Mogúncia. Assumiu a Presidência o padre Carlos Isenberg-Bernstein.
Sua finalidade é demover, com todas as energias, da emigra­ção, se bem que estes esforços mostram-se insuficientes, motivo porque buscam zelar pelos emigrantes, levar-lhes consolo religioso, evitar exploração e servir com conselhos.
           -Vi - dizia-nos- muita miséria entre os emigrantes, mas o que encontrei entre os vossos aldeões, ultrapassa tudo. Nenhum deles tem consciência para que esta viajando. Perseguem-nos as mais extravagantes esperanças. Narram os maiores absurdos sobre o Brasil, certamen­te insuflados pelos agentes, aproveitando sua fácil credulidade.. Fiz todos os esforços para mostrar-lhes a verdade. Nada adiantou. O Pe. Prahaz fazia a mesma coisa nos sermões. Nesta oportunidade, murmurando, abandonavam a igreja. As causas, segundo suas afirmações, que os estavam levando para fora do país, como já me tinha convencido anteriormente e agora es­tou sabendo pelos senhores, geralmente eram falsas. Curiosamente o povo em geral é vitima de mentiras. São muitos sobre quem poderia contar, aqueles que chegaram a mim, pedindo esmolas, ou uma fatia de pão, dizendo que estavam morrendo de fome. Poucos dias depois, esses mesmos trocavam dezenas e centenas de rublos, com os cambistas o que, falando em parêntesis, eu próprio prometi fazer-lhes, temendo que fossem enganados. Em ge­ral, creiam-me senhores, tenho mais pena  da miséria moral do que da ma­terial dessa gente. Quando lhes dava contribuições, caiam aos meus pés, depois quando me encontravam nem sequer cumprimentavam, fingindo não me conhecer. Além do mais, que fraqueza física!. Segundo minha experiência, tanto a velhos, como a crianças, o clima brasileiro  matara... Só os mais jovens se salvarão da vida mesquinha e sobremaneira difícil.
Resumi mentalmente as palavras do Pe. Schlosser que dão as di­mensões quão tristes recordações devia ter  recolhido. Eu próprio tive oportunidade de me convencer deste fato. Soube através do Pe. Schlosser estas coisas e imediatamente comuniquei telefonicamente a "Slowo e Kurier Warszawski", bem como o fato de que o governo brasileiro proibiu receber emigrantes poloneses. Esta notícia também foi recebida pelo "Nordd. Lloyd" que se encontra em gran­de embaraço o que deverá fazer com aqueles que já embarcaram e a quem o governo brasileiro não permitirá desembarcar.  Os, que atualmente se encontram em Bremen não podem mais ser recebidos no convés. Dizem que os motivos da proibição fundamentam-se na sublevação, que em vista da miséria e encanto, os emigrantes poloneses provocaram por duas vezes.
Acompanhados do Pe. Schlosser , dirigimo-nos ao Diretor do Lloyd, com a finalidade de acertar o preço da passagem daqueles que retornavam do Brasil. Fomos recebidos pelo Sr. Peters que é uma pessoa muito gentil. Ciente  de nossa visita, nutriamos esperança de que  o Loyd , por sentimento de humanidade, reduziria os preços, ao mínimo possível. Depois de um curto diálogo ao qual o Sr. Peters aduziu algumas palavras concordando com  as seguintes reduções: Pelo transporte do porto de Rio de Janeiro a Bremen: O adulto ao invés de 150 m (marcos) pagará 120 m. Criança de 6 – 12 anos, ao invés de 120 m, para 75 m. Criança de 1 a 7 anos, ao invés de 37½, pagará 30 m. Para menores de 1 ano, gratuitamente.
Além disso o Lloyd tomou a seu encargo levar aqueles que retornavam até a fronteira (Mlawa ou Alexandrow), em 3a classe, ao preço equiva­lente a 4a.ou seja o preço total de primeira categoria (15 anos -14 marcos e pela metade os preços de 2a e 3a categorias.
Finalmente, para a manutenção cada um recebera 2 marcos.
Naturalmente que era nosso desejo encontrar-se com os emigrantes que neste instante encontravam-se em Bremen. Para o simples "Louvado seja", todos se levantaram e nos rodearam. - De onde você é, meu amigo?- perguntei ao aldeão mais próximo, em cuja face  desenhava-se um curioso abatimento.
- Ah, de Makowice, de Lipno?
- Como é teu nome? Ali percebi que a mulher, parada a seu lado co­meçou a puxá-lo para o lado.  -Não digo!
- Por que não quer dizer, pois estas vendo quem eu sou. 0 homem começou a coçar a cabeça e a mulher, certamente temendo para que não cedesse, começou a puxá-lo com maior força.
- Isto 5 de menos- disse. Quantas crianças está levando consigo? - Seis e a sétima, se Deus quiser, vai nascer na viagem. -Porque você vai para o Brasil? - Porque outros foram e dizem que lá é melhor.
-     Você estava mal em casa?
-     Bem, sim!  Não se tinha o que por na boca. A gente com esposa qua­se morreu de fome.
Esse proprietário a quem me dirige com perguntas e detalhes, in­formou-me  que aquele coitadinho moribundo, trouxe consigo 200 rs e que com essa importância pagou a manutenção sua e da família, até o dia 10 de abril.  Dai comecei a mostrar-lhe a mentira; não respondeu nada, mas resmungando, retirou-se. Não me dei por vencido. Insisti com a esposa para que retornassem para casa, quanto antes porque ninguém  vai ser embarcado e o Governo Brasileiro não receberá novos emigrantes. 0 Pe. Prahaz, confirmava. Finalmente, o aldeão num polonês arranhado, garan­tiu: "Não, vão partir!". Tudo isto foi em vão.
- Então morreremos aqui, mas não retornaremos para casa! - Esta foi a resposta definitiva.
Dirigi-me a um outro grupo. Ali se encontrava um tal Krupa, guar­da varsoviano da rua Chmielna, juntamente com sua esposa e crianças, já esgotaram os recursos e viviam de esmolas, dadas por outros emigrantes. Assim mesmo rejeitaram a proposta de que lhes daríamos  dinheiro para retornarem e fizeram-no sem a menor reflexão. Um tanto irritado levan­tei a voz : - Como,  deixaram - se iludir de tal  forma, sabendo que estamos viajando para  salvar pelo menos uma  parcela desses coitados que imploram compaixão e vós, apesar disto, partis, às cegas, para a perdição inevi tável?
- E isso é verdade?, disse um dos mais corajosos. Os demais secun­daram com um sorriso irônico.
Repito que todos sabem que não irão. Ademais o "Lloyd" já os havia informado, esclarecendo que somente pagará durante mais uma semana a hospedagem. Apesar de tudo não acreditam e não querem retornar.
- Se houvesse alguns milhares deles, como em novembro, comentou o padre Prahaz -  os senhores ouviriam a mesma coisa, somente as vezes de forma menos cordial.
Não nos restou outra coisa a não ser retirar-se com  dor no co­ração, deixando um parco reforço nas mãos do Pe. Prahaz para os momen­tos de aperto da miséria e quando a realidade cru surgir diante dos olhos, pudesse despachá-los para casa. A respeito desses coitadinhos não se pode dizer outra coisa a não ser: -"Senhor perdoai-os porque não sabem o que fazem!"
Percorrendo várias ruas de Bremen, tivemos oportunidade de conhe­cer, ainda que superficialmente a cidade. Bremen  de hoje possui 100 mil habitantes.
0 novo quarteirão da cidade surgiu perto da estação, conglomeran­do hotéis, casas comerciais e por isso não oferece nenhuma atração e em nada diverge  do  tipo comum de outras cidades alemãs. Aqui localizam-se também as hospedarias onde os emigrantes aguardam os navios do Bra­sil e onde o sonho dourado da felicidade no além-mar sofre as primeiras decepções.
Sob uma impressão deveras triste, abandonamos Bremen. A visão des­tas vitimas infelizes, pasto da maldade  e exploração dos agentes, bem como da  fácil credulidade e burrice dos mesmos. Sua cegueira e teimosia nas esperanças irreais, tem que comover qualquer um, é possível constar quão infrutíferas deveriam ter sido as advertências, ainda que secundadas por argumentos  concretos, uma vez que experimentaram na pró­pria carne mais de uma decepção e enfrentaram a miséria de frente, até agora  continuam sujeitos á ilusão formal da emigração.
Ás 4 horas da tarde, acompanhados pelo Pe. Prahaz, embarcamos no trem que nos levaria a Paris, via Colônia.
 Muitas lembran­ças dos tempos acadêmicos uniam-me a Capital da Westphalia. Quase   20   anos   apôs,   revi   esta   cidade   querida,   hoje  transformada em novas vestes,  com muitas fábricas, magníficos edifícios, e os imprescindíveis quartéis, existentes nas cidades alemãs de hoje.
Pela meia noite paramos em Colônia e meia hora depois seguimos para Paris.
A cidade esta submersa num semi-sono. Pelas ruas seguiam longas filas de carroções carregados; aqui e alhures, como de surpresa, uma caruagem, tirada por uma égua magra, acariciado com o chicote do carroceiro para apressar o passo. Nas calçadas havia muita gente; o Sábado Santo lançou para as ruas patroas e empregadas a fim de se abastecerem para  os dois dias santos.
Por causa do Sábado Santo não pudemos tomar iniciativa para cuidar dos nossos interesses. Decidimos fazer algumas visitas imprescindíveis  e  revirar as livrarias, buscando material sobre o Brasil. Mal começamos a vasculhar a 1ivraria, apareceu o jornalista, residente em Paris e colaborador dos jornais de Ia, o Sr. José Winnicki.
Por seu intermédio soubemos que a noticia sobre nossa viagem chegou a Paris, através da Agência Hawas. 0 Sr. Glinka que sente aversão por tu­do que cheire jornalismo, estava demais embaraçado com a visita, tanto mais que o visitante informou que veio com fins de entrevista. Aos pou­cos a lhaneza do Sr. Winnicki dissipou as prevenções do Sr. Nicolau e tivemos um agradável bate-papo.
Despedimo-nos no melhor ambiente e como prova disto, o Sr. Ferrão presenteou-me com uma obra em dois volumes: "Le Bresil. Excursion a travers ces 20 provinces", escrito por Alfred Marx, falecido, hã poucos meses e que exerceu as funções de Redator do diário “Brasil”, bem, como foi Vice-Presidente da Sociedade Geográfica-Comercial, em Paris.
Graças a bondade do excelente jornalista Sr. Winnicki, mantivemos contactos com o Sr. Santa Anna Nerry. Ele exerce as funções de Secretário da Representação da Ministério da Agricultura, da qual é chefe o Sr. Prado,  esse mesmo Prado que  o Sr. Waliszewski dedi­cou uma longa correspondência no "Kraj" e o qual segundo consta foi Ministro da Agricultura no Brasil.
0 Sr. Nerry, alem disso, é o presidente do Sindicato dos Jor­nalistas Estrangeiros em Paris e finalmente o correspondente do diário mais lido e mais influênte do Rio de Janeiro, "Jornal do Comercio". Cientes da falsa versão de nossa viagem que certamente nos antecederá em nossa vinda ao Brasil, é fácil concluir quão grande interesse tínhamos para conseguir a retificação da versão por intermédio do Sr. Nerry.
Comecei a ter uma uma séria convicção de que, de modo geral, o Governo Brasileiro diretamente não influencia o nefasto alicia­mento dos emigrantes. Sua culpa reside somente no fato de ter esti­mulado os agentes com prêmios pela quantidade de emigrantes fornecidos, atiçando desta forma  sua avidez de lucro e neste relacionamento não possui sobre eles o necessário controle para coibir os abusos.
Restaram os preparativos da viagem.
0 clima tropical exige muitos preventivos e cuidados. Antes de tudo deve-se olhar para as roupas. A forte transpiração, provocada pelo calor do trópico, expõe para um resfriado fácil ao menor sopro  de vento mais fresco. Munidos de roupas mais leves, não descuramos, aconselhados pelos irmãos Rogozinski, de comprar conjuntos de flanelas e algodão. Era necessário cuidar de proteção para a cabeça contra o calor solar. 0 guarda-sol nem sempre é o mais prático, como muito mais eficiente foi-nos reco­mendado o Kep inglês. A nossa chegada ao Brasil era prevista para a tem­porada das chuvas, e como constavam  viagens mais longas para a Provín­cia e, segundo fomos alertados a maior parte das viagens deverá ser feita a cavalo, por isso compramos capas de borracha e o  indispensável filtro para água. As viagens anuais para os alagadiços poloneses, mostraram-me a necessidade deste utensílio, pois é somente possível dessedentar os lábios com água suja e barrenta. Finalmente  abastecemo-nos com medicamentes, uma boa porção de quinino, sal amargo, uma pequena farmá­cia de viagem, esta  graças a família K, com remédios indispensáveis. Com isto pudemos imediatamente socorrer a todos os amigos que porventura necessitassem. Como o já falecido Stanczyk comprovou cada  um se considera o melhor médico, por isso  tributando essa obrigação um ao outro, julgamo-nos armados dos pés a cabeça contra a doença. Foi preciso decidir que linha nos transportaria pelo Atlântico  ao Brasil.
Todos os preparativos estavam concluidos e nada mais restava a fazer, senão partir.
Na quarta-feira, dia 2 de abril, as 20 horas deixamos Paris na Es­tação de Orleans, em direção de Madrid, por onde o caminho levava a Lisboa.
Lisboa atualmente conta com 300.000 habitantes é localizada numa área de mais de 12 quilômetros por sobre as serras, formando o lado direito do Tejo. A cidade do lado do rio apresenta uma vista magnífica, lembrando Napolis ou Gênova, especialmente a noite, quando as ruas e as casas sao iluminadas por milhares de luzes. Os portugueses também se orgulham de sua Capital e com satisfação mostram as belezas aos visitantes.

Veja parte II   http://kieltykabrasil.blogspot.com.br/2013/10/a-historia-contada-por-alguem-que_1313.html

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