Desde o ano de 1864 até 1872, especialmente do Rio de Janeiro e Santos, chegaram 88.823 emigrantes, ou seja 9.869 em média anualmente. De 1873 até 1886 o número geral de emigrantes elevou-se, somente pelos portos do Rio e Santos 304.796, ou seja 21.771, em média anual. Segundo as nacionalidades chegaram: 110.891, portugueses, 112.279 italianos, 23.469 alemães l5684 espanhóis etc.
Da Rússia nesta época chegaram apenas 417 emigrantes. A emigração maciça do Reino da Polônia, cai somente no ano de 1889 e seguintes, já depois da aplicação de outros meios de recrutamento, a cujo respeito falarei adiante.
De fato, nunca na historia, uma república nasceu de forma mais esquisita. Recuar no ato da abolição da escravatura tornou-se impossível, seria suicídio teórico e em seguida certamente concreto da República. Sobrou apenas um caminho, ampliação o quanto possível dos privilégios da emigração e despertar a esperança de uma emigração maciça que segundo o julgamento de todos os brasileiros e a base do desenvolvimento, progresso e futuro do pais.
Em tais condições e numa tal atmosfera, surgiu a nova lei sobre emigração, aprovada pelo titular do governo provisório, Marechal Deodoro da Fonseca aprovada no dia 28 de junho de 1890. Traz no bojo todas as características de largo crescimento da emigração, na realidade abre as portas escancaradamente para toda sorte de especulação e, como veremos, um controle real sobre a maquina emigratória torna-se impossível.
Na introdução o general Manoel Deodoro da Fonseca, como chefe do governo, anuncia que em vista da necessidade da vinda de trabalhadores estrangeiros para o Brasil, julga indispensáveis estabelecer e fixar em leis definidas. Espera conseguir este objetivo pelo mencionado decreto, cujos pontos principais são os seguintes: Só pode ser aceito no Brasil o emigrante com saúde, capaz para o trabalho e que não seja atingido por uma sentença condenatória. As companhias transportadoras que desembarcarem emigrantes inadequados estarão sujeitas a multas em dinheiro.
Para o transporte gratuito ou por preços menores tem direito:
a) Famílias camponesas com filhos e pais, que não sejam acima de 50 anos;
b) solteiros entre 18 e 50 anos;
c) artífices, empregados, etc que satisfaçam as condições acima prescritas.
0 governo está disposto a pagar as companhias de transporte, como prêmio, 120 francos por pessoa adulta, desembarcada em terra firme, desde que satisfaça as condições estipuladas pelo decreto e desde que se obriguem a não cobrar dos emigrantes, um pagamento superior a 120 francos, o restante da passagem. Todas as questões emigratórias serão dirimidas por uma comissão especial de inspecção da colonização.
Durante os primeiros seis meses os emigrantes tem direito de exigir mudança de local, inicialmente escolhido. Os proprietários ou companhias que não cumprirem as condições do contrato, podem ser forçados ao cumprimento por via legal. Cada companhia ou agência, que introduzir no Brasil 10.000 emigrantes, receberá 100.000 francos como prêmio em caso de não ter contra si levantada nenhuma reclamação.
Para o retorno ao país, por conta do governo, tem direito:
1) as viúvas e órfãos, que perderam o marido ou pai, no decurso de um ano a partir da data da vinda ao Brasil;
2) os emigrantes que por motivos alheios a eles tornaram-se incapazes para o trabalho, igualmente durante o primeiro ano de sua permanência. Ambas estas categorias tem ainda o direito de receber do governo, como indenização, entre 50 - 150 mil reis. Os colonos recebem propriedade com casa, pagando 25 mil reis por hectare, se a terra não for cultivada e 50 se já tiver alguma cultura. A importância devida pelo terreno, deve ser paga no decurso de 10 anos, cor juros de 9% ao ano. Em caso de não pagar a parcela, no decurso de dois anos, são obrigados a abandonar o lote, retornando ao proprietário ou a companhia. As colônias devem situar-se nunca além de 13.000 metros da artéria de comunicação e abrigar grupos de pelo menos 10 famílias.
Durante os três meses de minha permanência no Paraná, somente pude visitar as colônias mais distantes, Curitiba e alguns agrupamentos nos seus arredores. Fui obrigado a deixar para outras oportunidades a visita aos grandes núcleos nas proximidades de Curitiba e Ponta - Grossa.
Decidi partir para as povoações polonesas menos conhecidas pouco descritas
. . .para Santa Catarina e Rio Grande do Sul, quase ignoradas pela expedição de “Siemieradzki, Hempel e Lazniewski”, realizada em l891. Além disso, um outro motivo levou-me para tomar a decisão: visitar Foz do Iguaçu... A deliberação foi uma consequência dos diálogos que mantive com Saporski, a respeito da colonização polonesa no Paraná. A Foz representa um fator importante para o comércio e para a colonização. È o melhor meio de comunicação com o mar através dos Rios La Plata e Paraná. Tive que fazer uma volta de algumas milhas para realizar um percurso de 500 quilômetros (sic) a partir de Rio Claro, rumo Oeste. Neste caso a linha reta não é o caminho mais curto, pois seria necessário atravessar algumas centenas de quilômetros de florestas, morros, ou então seguir pelo leito do Iguaçu, totalmente desconhecido, mas tudo indica que é tortuoso, com quedas e cachoeiras. Semelhante percurso por terra firme duraria no mínimo três meses, deveria compor-se de algumas pessoas, boa provisão de alimentos, bem como também outros acessórios.
Parti de trem em lo de janeiro de l896, rumo a Rio Negro.
Ao chegar ao Paraná, tinha dúvidas quanto ao local, onde deveria fixar residência: Água Amarela, onde reina miséria e confusão ou numa das colônias mais velhas, onde há um bem estar relativo. O Padre aproveitou a oportunidade para viajar comigo pelas colônias polonesas catarinenses de Rio Vermelho...
Antes de empreender esssa viagem, tive a sorte de voltar pela segunda vez a Lucena, distante apenas 4O quilômetros de Rio Negro. Nessa grande povoação, encontrei-me sob a proteção do Sr. Wengrzynowski, dono de uma venda. Visitamos as colônias a cavalo, durante um dia inteiro... Mesmo assim não pude visitar todas . Dirigi-me a mais nova de todas e a mais afastada – Moema. Vimo-nos tontos de tantos cumprimentos e brindes que os colonos nos ofereciam.
Aqui acham-se mesclados os galicianos com os homens do Reino... Existe predominância dos primeiros. Não é fácil distingui-los dos ucranianos, pois tanto na linguagem, quanto na aparência e nos trajes em nada se diferenciam. Impressionou-me o profundo sentimento patriótico de alguns, certamente sinceros, pois foram confessados em estado de embriaguez e com lágrimas nos olhos.
Visitei alguns conhecidos meus da viagem marítima, entre eles Skowronek da Galícia Oriental. Organizou uma venda nos confins da civilização, próxima à região habitada por botocudos. Infelizmente esta foi a última vez que o vi. Neste mesmo ano foi horrivelmente trucidado pelos índios. Foi uma grande perda para a colônia. Falava fluentemente o polonês e o ucraniano, gozando de simpatia por parte de ambos os agrupamentos, da mesma forma como entre os elementos que viviam dessa forma por força de circunstancias. Ele era uma alma polonesa de grande fervor.
Passamos pela localidade, onde em 1892 foi trucidada a família Przybylski pelos selvagens.
Ê uma região desbastada de matas, onde aparecem outeiros, cobertos de cepos, restos das florestas terras derrubadas inteiramente virgens. A causa dos massacres foi conseqüência da fixação dos colonos em terras onde nenhum branco havia perturbado a solidão dos indígenas. As famílias Przybylski e Skowronek foram designadas para se estabelecerem em cemitério botocudo, o que constituía grande desrespeito e ofensa. Trata-se de uma luta entre a "Civilização" e a "Barbárie".
As relações entre eles são na base do porrete de um lado e bala e facão do outro. Os brasileiros mostram-se os mais fanáticos. Dizimavam-nos sem misericórdia e faziam incursões sem cessar, geralmente como represália. São especialistas no massacre: atacam a noite e trucidam todos, sem compaixão. Pintam-se horrivelmente, pois os selvagens possuem extraordinária facilidade para guardar as fisionomias durante anos. Quando reconhecem, vingam a morte. 0 pior em tudo isso é que a luta aqui toma dimensões de sobrevivência... e não há distinção entre culpados e inocentes. Os colonos não podem ser culpados, pois os massacres são feitos pelos brasileiros, que posteriormeemte povoam com imigrantes as terras arrebatadas aos indígenas. Isso até em cemitérios botocudos.
Os homens mais pacíficos tornam-se selvagens quando são perseguidos com tamanha violência pelos botocudos. As boas relações com os moradores poloneses talvez trariam resultados positivos para a colonização polonesa.
Retornando a Rio Negro, parti com o Pe. Ossowski em direção a Santa Catarina.Levamos um dia para atingir a localidade de Rio Preto. Aqui existe uma agência postal. Aqui se detém os viajantes para o pernoite. Carlos Ladislau Kaminski é a principal personalidade local....e praticamente o dono de Rio Preto, situado as margens do rio do mesmo nome.
É proprietário de uma grande venda -considerável estabelecimento comercial,bem como de uma serraria e grandes propriedades de terra nos arredores: a vista é magnífica, junto ao rio que corre majestoso e ruidoso, ladeado por outeiros descalvados em parte ou cobertos de árvores e araucárias.
Rio Preto faz divisa entre o Paraná e Santa Catarina. Trata-se de limites em litígio. Ambos os estados pretendem fixar a faixa limítrofe a seu favor. 0 comércio de Lucena e Rio Negro demanda Joinville e não Curitiba, fato este que os catarinense aproveitam para as suas pretensões …
Lençol é uma área alemã, habitada por colonos abastados, estabelecidos há 50 anos. A prosperidade transparece a cada passo... depois de algumas horas de agradável companhia, prosseguimos a viagem.
Pelo caminho juntou-se a nós um emissário da colônia polonesa de Rio Vermelho, com o fim de receber o Pe. Ossowski e convida-lo para ficar com eles.
Trata-se do proprietário Paulo Chabanski, que se dedicou a sua missão com grande fervor, decidiu ir até Curitiba e não se separar dele até conseguir cumprir a missão e levar o sacerdote para Rio Vermelho.
Depois de passar Oxford, chegamos a uma cidade inteiramente alemã, São Bento, que até pouco tempo era a sede administrativa da Grande colonia do mesmo nome. Tornou-se município e o núcleo administrativo, sua capital tem aspeto de uma aldeia alemã, melhorada.
Chegamos a Rio Vermelho, pelas 9 horas da noite.
Alcançamos a venda do senhor Narloch, oriundo da Prússia Ocidental -de Kaszuby - o que se deduz de seu sotaque e pelo que dizem os outros que se encontram no negócio. Não viemos desapercebidos, pois estavam ali para nos dar as boas vindas.
0 pai do sr. Paulo Wielewski, que antes foi professor em Rio Vermelho, assinava o "Przeglad Emigracy jny", soube alguma coisa a meu respeito e me recebeu mui cordialmente. Tecia elogios a revista e suas tendências... a palestra transcorria alegre. Todos estavam satisfeitos com a vinda do sacerdote, pois se concretizou uma aspiração de 15 anos. Foi-nos preparado um pouso na canônica que estava um tanto abandonada e despreparada para nos receber.
Passamos a noite em relativa calma. Um tresloucado, conhecido em toda a colônia, veio a cavalo, cantando à moda selvagem em português e alemão. 0 galopar do animava e dava impressão de que havia ali uma tropa, principalmente para quem havia despertado do sono.
Revólver em punho, pronto para adentrar o nosso quarto, queria arrombar a porta. Nada aconteceu. O louco desceu do cavalo, amarrou-o e cantava,contemplando a lua... montou...a canção e o galopar sumiram aos poucos.
Choraram copiosamente ao ouvirem o sermão em polonês, depois de 15 anos. Fiquei comovido. Suas disposições eram tais que o sacerdote poderia fazer com eles o que bem entendesse... sua influência era visível.
Os próprios colonos mostravam desejo de se organizarem melhor culturalmente, com vistas ao progresso. Os alemães que ali moravam, tinham simpatias por nossa gente, principalmente o Sr. Brunnquell, proprietário de do moinho em Rio Vermelho.
Em descrições posteriores teremos conhecimento se o Pe.Ossowski realizou as esperanças nele depositadas,desde os primeiros instantes.
Rio Vermelho integra a grande colônia São Bento. Esta foi fundada pela Sociedade Colonizadora de Hamburgo, há 40 anos, em território paranaense. As terras foram obtidas gratuitamente do Príncipe Joinville, da casa imperial brasileira, em 1849. Fundou o povoado "Dona Francisca", com a capital, Joinville, localizada no litoral, e estendendo-se até a Serra do Mar. Dali idealizaram organizar uma grande colônia para além da Serra, no Planalto, onde o clima é mais ameno. A terra na época era bem mais barata do que atualmente e os limites das províncias,hoje estados, não eram rigorosamente respeitados. As provinciais eram administradas do Rio de Janeiro e só com o advento da República tornaram-se estados, data em que começaram a cuidar mais de cada pedaço de terra sob sua jurisdição. Por isso a posse de terras, não pertinentes a ninguém, ou mais precisamente do governo, não chamavam a atenção de quem quer que fosse. A quem poderia interessar se a terra do Príncipe Joinville possuía 20 ou 50 milhas quadradas, ou se estar localizadas na Provincia de Santa Catarina ou Paraná?
Deve-se ter em mente que o Paraná constituída parte da Província de São Paulo, que por seu turno tinha uma grande extensão de terra, e pouco lhe interessava uma bagatela de algumas centenas de quilômetros quadrados. Atualmente o estado de Santa Catarina, que outrora era apenas uma parcela localizada entre a orla marítima e a Serra do Mar, extendeu-se além destas, pela fundação da Colônia São Bento e absorveu grande parte de outras terras. Agora nutre pretensões para incorporar uma grande parte do Estado do Paraná, em direção ao Oeste,até os limites com a Argentina.
Prussianos orientais e galicianos povoaram metade da colônia São Bento »0 núcleo polonês é constituído por Rio Vermelho» Em breve transformar-se-á em cidade. Dali partem as mais importantes e extensas linhas da colônia S. Bento... todas polonesas ou com predomínio dos nossos. Entre elas destaca-se a linlja Humboldt, totalmente polonesa e entende-se por algumas milhas... os prussianos estabeleceram-se ao longo de um dos mais curiosos caminhos do mundo, em vista dos diferentes climas que atravessa.
Inicia em Rio Vermelho, onde o clima e relativamente suave e termina no sopé da serra, onde reina uma temperatura elevada. As culturas principiam como em algum lugar europeu, onde existem campos de centeio, trigo, ervilhas, batatas, cevada etc, com vegetação de erva-mate, exemplares de pinheiros que conseguiram salvar-se do machado. Na região tropical que o caminho envereda, encontramos laranjas, limões, limas, em quantidade, bem como banas, figos, café, algodão e outros frutos que medram em climas quentes, tais como batata doce, cará, inhame..
Uma estrada tgo curiosa, que perpasse por regiões tão diversas no setor climático, somente existe na Bolívia, que começa nas montanhas com clima frio e finda na região tropical.
0 setor de São Bento, em 1882, contava com 4.000 habitantes, dos quais a metade era constituída por poloneses e a outra por alemães. Estes localizavam-se na área norte, as margens do Rio Negro, onde residiam 1.800 brasileiros.
Depois de seis dias prosseguimos. 0 Pe. Ossowski dirigiu-se ate Joinville, a fim de entrevistar-se e manter conversações com o seu vigário Pe Börgershause.
Durante o dia inteiro viajamos pelos povoados de Campo Novo, eté encontrar a localidade de Encruzilhada, situada no topo da Serra do Mar. Ali somente existem dois hotéis. Vimo-nos forçados a pernoitar... no Brasil não se viaja a noite... excepcionalmente poderia ser realizada uma viagem, pois o caminho e bom, construído com esmero e bem conservado.
Partimos pela madrugada em direção a uma zona montanhosa, onde apreciei paisagens encantadoras. Ultrapassamos o "castelo dos bugres" - uma estranha cadeia de serras, semelhando um castelo em ruínas e o caminho principiou á descer a Serra do Mar, serpenteando e contornando o declive. Os nossos olhos deleitavam-se com panoramas espetaculares, embora não possa ser comparados a maravilhosa estrada entre Curitiba e Paranaguá.
Durante a viagem sentimos a mudança de clima, quer em nosso organismo, quer na natureza, principalmente pelo sopro do vento. A vegetação tornava-se mais viçosa, mate pujante, mais fantástica, 0 numero de insetos aumentou, principalmente legiões de cigarras, cujo zumbido constituía-se em musica que nos acompanhava. Adentramos uma campina, amplamente povoada, dando-nos a impressão de que estávamos na Europa Central ou Oriental. Em pleno calor do meio-dia chegamos a Joinville, a ex-capital e atualmente centro do setor de Dona Francisca, e cidade inteiramente alemã. Fundada e colonizada em toda a planície pelos alemães, através da Sociedade Colonizadora Hamburguesa, desde l849. Somente nos últimos tempos apareceram os brasileiros. No momento em que me encontrava no Brasil, estava em organização uma sociedade de amparo à língua portuguesa. Não existem colonos poloneses, há alguns espalhados, que não se pode levar em conta.
Conheci o pe. católico Börgershausen. Era um sacerdote de Hanover, gentil e esclarecido. Não tinha nenhuma prevenção contra os poloneses. Elogia-os, como paroquianos e lastimava-se pelo fato de não saber a língua eslava. Alegrou-se com a vinda do Pe. Ossowski. Entenderam-se perfeitamente no que respeita à atividade pastoral e o ajudante foi designado para tomar conta das ovelhas de Rio Vermelho.
Finalmente o meu navio aportou. Era o dia 5 de janeiro de 1896, quando adentrou a baía de São Francisco, situada a poucas horas de viagem de Joinville. Para não atrasar tivemos que sair na véspera, logo apôs o meio-dia. Navegamos pelo leito do pequeno rio Cachoeira, que leva até o mar. Somente a noite atingimos a meta, num ambiente chuvoso e de escuridão. A procura de hotel não fez parte dos momentos agradáveis... um gaiato carregou os meus pertences. Deliberou apropriar-se dos mesmo e tentou a fuga. Corri ao seu encalço, amassando o barro e pisando na lama e na água até os tornozelos. A chuva que desabava, parecia uma tromba de água e a corrida pelos becos e ruas tortuosas parecia não ter mais fim... Arrancava as derradeiras energias, para não perder de vista o malandro numa noite dessas, em situação tão complexa, numa cidade desconhecida e temente perder as minhas coisas. Cheguei ao hotel molhado até o último fio.
0 hotel tinha uma conservação modelar, mantido por uma viúva. Tive oportunidade de observar os diferentes tipos brasileiros e hóspedes que percorriam o Brasil. Havia uma multidão para embarcar, em demanda de vários lugares. 0 meu navio atrasou dois dias. Diante de meus olhos passaram vários tipos, principalmente políticos exaltados. A politicagem na America Latina é pior do que na Galícia. Os temas das conversações versam sobre política, ou erotismo grosseiro. Numa e noutra primam os mulatos. Os habitantes distinguem-se por uma grande esperteza, bem como por perversidade, preguiça, arrogância e loquacidade.
Os mulatos no Brasil são descendentes de ricos proprietários das plantações de café e de suas escravas-negros. Os seus "pais" custeavam sua educação e colocavam-nos em cargos públicos, bem remunerados. Eis a razão de seu partidarismo ferrenho do governo, ao mesmo tempo grandes adversários dos Federalistas, que surgiram, há alguns anos. Ouvi a granel insultos e ameaças. Veio um grupo de malabaristas japoneses, que já tive oportunidade de aplaudir em Curitiba. Divertiram-se à mesa com brincadeiras infantis, pelo menos em nada atraentes para os demais convivas presentes...fingiam cantos de galo, latiam, miavam, etc...
A cidade em si é pobre, talvez 1.000 habitantes existam ali, sendo que a maioria são brasileiros: sua situação é privilegiada, e com futuro promissor, depois da maravilhosa Rio de Janeiro.
Poderia ser construído o melhor dos portos da América do Sul, nas costas do Atlântico, muito mais carente de baías do que o Pacífico. Além disse deverá ser construída uma estrada de ferro que, partindo de Joinville, demandará o interior brasileiro. Em consequência um futuro brilhante aguarda a baia de São Francisco, graças ao porto. A baia forma a ilha de S. Francisco, que se oferece montanhosa, idêntica é a situação da terra firme, requebrado ao norte e plana para o sul... a baía é na parte sul estreita e de pouca profundidade, de maneira que somente da região norte e que passam os navios e adentram o porto. Por esta via podem navegar os navios do maior calado, do que não tem condições de se orgulharem os maiores portos, como: Buenos Aires, Hamburgo e Petersburgo.
Ao despedir-me de São Francisco deleitei-me com a beleza do por do sol, que espargia os seus raios suaves sobre as águas que misturam o Atlântico. 0 navio penetrou em alto mar, descrevendo um gigantesco semicírculo, rumando para o sul. As costas prosseguem montanhosas. 0 panorama cansa, pois sempre é o mesmo quadro, ainda que tenha a beleza, quer nos picos quer nas escarpas dos montes Tatra e Alpes, transpostos a beira-mar. Olhados continuamente deixam de ter atrativo.
0 navio estava superlotado de passageiros... era nata da sociedade brasileira.
Estávamos em Desterro, chamada desde alguns anos Florianópolis, em honra ao vice-presidente do Brasil, Floriano Peixoto, homem que esmagou a revolução Federalista.
Em poucas horas estávamos em terra firme, num dia de sol. A Capital de Santa Catarina, Desterro, é menor do que Curitiba. Não possui mais de 15.000 habitantes. Sua situação é encantadora, principalmente o centro da ilha de Santa Catarina, localizada entre duas baías. 0 estreito que separa da terra firme e de apenas alguns metros. A extensão da ilha atinge 100 km. 0 estreito aparenta um rio de proporções regulares. As costas, nomeadamente a da terra firme são alcantiladas e suas montanhas nos aludem, pois parecem distar apenas alguns passos, que na realidade são algumas milhas. 0 estreito e de pequena profundidade e não permite passagem aos navios de maior calado.
Hospedei-me num hotel de alemães. É modelar no asseio, mas muito explorador em bebidas. 0 proprietário é um colono, que enriqueceu e seu prazer era tratar nobremente os seus hospedes, com a finalidade de atrair freguesia. Fui obrigado a dizer-lhe algumas "verdades" e ameaçar de abandonar a hospedaria. De imediato, não encontrei poloneses. Na via principal, "Rua 15 de Novembro", deparei-me com e anúncio "restaurante polonês". Não foi em vão a minha entrada, pois encontrei ali o proprietário, sr. José Szczepanski, vindo de Varsóvia. Recebeu-me cordialmente e foi prestativo como se fosse seu irmão. Por seu intermédio conheci outros patrícios, Kaminski e Wiklinski, sapateiros. Fiz amizade com eles, bem como com suas famílias. Participava de aperitivos e almoços. Visitei os barracos dos imigrantes, onde se detém por algum tempo as expensas governamentais, até se fixarem definitivamente em seus lotes. Encontrei homens do Reino e da Galícia, poloneses e ucranianos. Alguns pretendiam deslocar-se ao Paraná. As hospedarias estavam em excelente situação. Tive a impressão de que estavam em melhor situação do que as de Curitiba, pelo menos a aglomeração era menor. Deve-se levar em conta o fato de que o Estado de Santa Catarina é bem mais velho do que o Paraná e recebe imigrantes há muitos anos. Os organismos destinados a receber as levas imigratórias tinham tempo para se aparelhar. 0 movimento migratório para Curitiba já se iniciou e continua a fluir para aquela unidade brasileira.
Fiz quatro visitas ao palácio do Governador Hercílio Luz, mas em nenhuma delas o encontrei. Soube depois que isto não é simples acaso. 0 governador não nutre simpatias pelos poloneses, suas relações são de prejudicador a prejudicados. Houve ocasiões em que fugia deles.
O Estado de Santa Catarina pode ser dividido em 4 partes: São Bento e Dona Francisca, com Joinville, Blumenau e Brusque (estes setores situam-se entre a Serra e o Mar), Laguna-Tubarão, igualmente no litoral e a última é constituida pelo planalto de Lages, além das serras. 0 último setor e o menos povoado, selvagem, completamente descolonizado por estrangeiros, ao contrário que aconteceu com os três primeiros que receberam forte contingente imigratório.
Aproveitei o barco que partia para Laguna, para visitar primeiramente a região sul do Estado. Embarquei de noite, pelas 22 horas e a embarcação zarpou pela meia noite. Somente no dia seguinte aportamos em Laguna, em meio a dia chuvoso e nublado. Pouca coisa pude apreciar na cidade, até chegar a estação ferroviária.
Às 14 horas parti para Bifurcação, donde parte a linha férrea para Imbituva, e uma outra para Minas, no interior do Estado, para a direção Oeste. Atravessamos uma ponte de grande extensão, levando seis minutos para ser percorrida. Não tinha parapeitos, causava a impressão de que estávamos voando sobre o mar, vendo ondas de proporções consideráveis, quebrando-se contra as pequenas ilhas rochosas do litoral. À noite cheguei a Tubarão encontrei o pe. Chylinski. de Poznan. A seu respeito tive boas referências em Desterro. Era bom religioso e polonês.
Não tive decepções. Ofereceu-me prontamente seus prestimos e informações sobre os poloneses e sobre as colônias. Em sua residência na cidade de Tubarão pude observar de perto um Botocudo, que recebia educação no colégio dos padres. Foi capturado há alguns anos, numa caçada a selvagens. Veste-se, fala o português e não há perigo que fugia para junto dos seus. Sabe que os próprios pais lhe tirarão a vida se aparecer vestido. Não é possível manter em cativeiro, um botocudo adulto: não aceita alimentação e morre de fome, depois de alguns dias de falta de liberdade. O rapaz, para a idade, é de pequena estatura, ombros largos e peito estufado e sua tez é bronze-escuro.
Seus lábios ainda não se uniram. Cada botocudo é marcado com uma perfuração do lábio, que sempre permanece aberto, mediante um suporte de madeira. Este é feito na infância e permite que assovie assustadoramente, atraindo pássaros, imitando suas vozes. Fomos brindados com um desse assobios horripilantes.
De suas narrativas pude deduzir quão impiedosa e anticristã é a luta que se trava contra os botocudos no Estado de Santa Catarina, onde são os mais visados e onde seu numero é maior. Fiel aos conselhos do pe. Chylinski, decidi visitar as colônias de Criciúma, Grão – Pará a fim de me encontrar com éle em Braço do Norte.
A viagem entre Tubarão e Pedras Grandes atravessa uma região semelhante as da Europa. Existem estações em montanhas, cobertas de pujante vegetação, rios, regatos e um número considerável de quedas d'água. Em Pedras Grandes, pequeno povoado, que me chamou atenção pela limpeza, hospedei-me num hotel alemão. 0 proprietário dirigia ainda uma mercenária e torno. Tinha vários empregados poloneses. Embora informado detalhadamente sobre o caminho a Criciúma, defrontei-me com dificuldades insuperáveis a primeira vista. Não consegui um cavalo, nem burro. Quando apontei para um proprietário, mostrando uns dez muares que pastavam afirmou que não poderia alugar, porque estavam cansados. Dois italianos, suspeitos de que sejam levianos, disseram-me que em Urussanga, poderia obter burros a vontade. Segundo asseguravam, aquela localidade distava uma hora e meia de caminhada. Todos os meus esforços de obter montaria em Pedras Grandes foram inúteis. Impaciente de permanecer no hotel, apesar de que o proprietário dissesse que deveria aguardar por uma condução (certamente para ganhar as minhas custas) abalei-me a pé.
Os dois italianos acima mencionados seguiram comigo, mostrando-se sobremaneira gentis e ofereceram toda sorte de ajuda. Suas olhadas sobre a pasta despertaram minha suspeita. Soube depois que semelhante companheiro a tiracolo cria ciúmes e ganancia nos homens simples, pois julgam que há muito dinheiro, são tentados ao roubo e o portador corre o risco de perder a própria vida. Os companheiros sempre ofereciam-se para carregar alguma coisa minha. Acedi, com a precaução de guardar junto de mim o "bocó" e o revolver, deixando que portassem a minha capa de borracha.
Após termos caminhado durante uma hora, chegamos a uma pequena aldeia italiana, onde me separei dos companheiros. Ali soube que até Urussanga levaria duas horas de caminhada. Falou-me com sorriso (sarcástico e me parecia desprezivo. Combinei com os dois italianos que nos encontraríamos num povoado adiante.
Amassávamos o barro em chuva e lama, não crendo nas palavras do "vendeiro", pois julgávamos que ele queria que pousássemos em sua hospedaria. Atolava até o tornozelo. A lama era de uma coloração vermelho tijolo, e lameando os meus sapatas e parte das vestes. A terra seria última para plantação de café, pois havia uma vegetação viçosa e pujante. Antes do cair da noite cessou a chuva e sobreveio um tempo bom. Através de pessoas que levavam carregamento para Urussanga, certifiquei-me que aquela localidade ainda distava duas horas. Soube da existência de colono, que ficava no desvio lateral. A chuva molhou-me até o último fio e ao invés de prosseguir a caminhada, refugiei-me no mato. Percebi que um dos companheiros passou, galopando, montado num tordilho. Essa paragem, as olhadas estranhas durante a viagem, fez-me desviar a rota, em direção a casa do colono italiano. Não desejava entrar no "rendez-vous" com os companheiros italianos. Penitenciava-me do excesso de prudência, mas as minhas dúvidas se dissiparam em 16 minutos, com o cair da noite.
O proprietário italiano já havia cerrado as portas e toda a família já descansava. Com dificuldade consegui entrar em sua casa e mal cumprimentei o dono, pois sua senhora e as crianças já dormiam. Serviu-me biscoitos e vinho tinto, disse-me algumas palavras simpáticas com referência aos poloneses e sobre a Polônia. Hospedou-me na estrebaria. Tudo isto foi feito mediante remuneração.
Era um dia de sol diáfano e absorvia a fresca brisa matinal, contemplava a natureza que desperta, até chegar, pelas 9 horas, em Urussanga. Perfiz o trecho caminhando com passos estugados. Todos a quem perguntava por aquele povoado respondiam simplesmente "é pertinho".
Finalmente alcancei o lugar tao almejado. Trata-se de um povoado italiano de proporções consideráveis, compõe-se de uma linha alongada. Na venda informei-me a respeito de poloneses. Encontrei um que vinha de Criciúma, que me tomou sob os seus cuidados. Ofereceu-me seu cavalo, enquanto prosseguiu a pé. Durante a viagem tive oportunidade de me inteirar dos detalhes da colônia. Era agradável ouvir da boca de um colono palavras de amizade e confiança, bem como a compreensão da minha missão no Brasil.
Levou-me ao escritório da colonização que, a exemplo do que ocorre em todas as colônias, também aqui era sede da administração. Todas as questões colonizadoras, administrativas e judiciárias concentravam-se num mesmo escritório. Ali encontramos só um funcionário, engenheiro agrimensor, um letão que mal conhecia o polonês, mas dominava o russo e o português. Ali reuniam-se vários colonos e perguntavam-me sobre a finalidade da minha viagem, durante duas horas. A conversa correu animada. Ouviram com atenção notícias sobre a Polônia e ficaram satisfeitos de que na Polônia preocupavam-se com eles. Principalmente entusiasmou-se o lituano Andruszkiewicz, quando soube que possuo parentes próximos na Lituânia e que são bons conhecidos meus. Convidou-me para sua casa e não me deixou mais, durante a minha permanência nesta região. Em sua companhia visitei as colônias de Criciúma e Cocal.
As terras não me impressionaram, ainda que produzam e segundo os conceitos europeus não são nada más... são consideradas as piores do Brasil. Em Cocal as glebas são fracas, do que se queixam os próprios colonos, que não são exigentes quanto aos solos, pois são ávidos por terra. A região apresenta lombadas, recobertas de vegetação e mato. Ali, as serras tornam-se mais amenas, por causa da proximidade do mar. Quanto mais se avizinham da orla marítima, praticamente desaparecem, e mais ainda para a direção da fronteira do Rio Grande do Sul.
Ao lado das glebas polonesas, existem outras, povoadas por italianos. È a colônia Nova Veneza. Nas colônias de Criciúma e Cocal moram 70 famílias do Reino da Polônia e da Lituânia, isto é 300 a 400 pessoas. A primeira consta de 60 famílias e 300 pessoas e segunda com algumas dezenas ou 100 pessoas aproximadamente. Ambas são quase totalmente polonesas. Em Cocal havia muito mais poloneses, mas abandonaram o lugar por causa do solo inadequado.
A viagem de Pedras Grandes continuou por uma estrada encantadora, semelhante aquela que atravessei a partir de Laguna. Horas apôs cheguei a uma colônia ítalo-letã, onde se encontra a sede da "Empresa Colonizadora e Industrial", sociedade que possui vastas áreas de terra em Santa Catarina e já organizou várias colônias. A matriz da companhia esta sediada na cidade do Rio de Janeiro e a filial de Orleans é dirigida pelo sr. Stawiarski, oriundo de Czenstochowa. Ele reside mais em Grão-Pará do que em Orleans. Em vista da carta que lhe enviei anunciando a minha vinda, fez a gentileza de me mandar muares com uma carrocinha de confiança.
Partimos pelas 16 horas. Cavalgava um burro tordilho, parecendo um potro, como jamais poderia suspeitar que existam animais desse jaez. O caminho depois da chuva estava excelente. As vistas espetaculares, com a vegetação refeita pela água. A distância divisavam-se as Serras do Mar, tendo os cimos cobertos com nuvens, enquanto as ladeiras dos morros recobertas do tapete verde das mais variegadas plantas sobressaindo se os cedros, figueiras, canelas, louros, cipós que descem
das copas até o solo. Dentro da mata crescem esbeltas palmeiras, com belas folhagens, tais como, podem ser vistas nos viveiros europeus. Chamam-se palmitos. Deleitei-me até o por do sol, com as paisagens que a cada instante eram novas e inesperadas. Durante a viagem confabulava com meu companheiro, sr. Demaj, procedente da Galícia. Com o cair das sombras da noite, os meus olhos entraram em devaneio. Troteávamos, mas tive a impressão de que batíamos os pés no mesmo local, outras vezes tive a impressão de estar sentado sobre uma máquina que trabalhava uniformemente, ou ainda que estava caindo para um precipício, batendo-me contra árvores, partindo o crânio, bem como tive fantasias de que a escuridão qual avalanche irrompia contra mim. A cavalgadura era o meu guia, pois conhecia melhor do que eu o caminho, razão por que deixei que andasse sem corrigi-la.
Corríamos tanto nas subidas, quanto nas descidas, Atingimos uma localidade com habitações. Era a sede da Colônia Grão-Pará. Chegamos depois das 9 horas da noite.
Ali me aguardava o diretor Stawiarski, homem de média idade, que abandonou a Pátria, depois da derrocada do levante, com o coração partido quanto ao futuro da Pátria. Calmo e humilde conquistou sua posição pelo trabalho, alcançando a direção, graças a sua capacidade e honestidade. Casou-se com uma italiana, pessoa que não o iguala em cultura, com quem quase não conversei porque falava um dialeto italiano
Uma moradia na localidade de Grão-Pará não deixa de ter seu romantismo. Habitavam ali umas 50 famílias polonesas e umas 300 almas aproximadamente. Haviam-se estabelecido ali umas 200 família cerca de 1.000 pessoas, que se retiraram por motivos de ataques indígenas, principalmente botocudos, que os colonos chamam de "buchy". Assassinaram uma menina em pleno meio-dia, enquanto trabalhava. 0 sr. Stawiarski organizou uma expedição contra eles, dizimou-os e extinguiu sua taba, levando grande quantidade de armas, flechas e alguns rapazes. Os índios suspeitavam quem fora o autor, de semelhante revide e não desistiam. Ele e sua senhora não dão um passo, sem estarem munidos de armas de fogo. Os silvícolas fazem-lhes brincadeiras, tais como abrir as porteiras, etc.., mas não ousam atacar; por causa dos cães amestrados e armas de fogo. Os cães e os muares sentem de longe a aproximação dos selvagens, razão porque dificilmente e excepcionalmente podem achegar-se as construções.
Hospedaram-me numa casa vizinha, recém construída. Apesar das narrações, realmente fantásticas, a fadiga e o sono fizeram seu papel e dormi como se fora um justo. Sonhei ou mesmo acordado ouvi o latir dos cães. Somente conciliei o sono depois de apalpar o companheiro inseparável - o revolver.
Nos dias seguintes visitamos as colônias da redondeza. A diminuição do número de habitantes não fez decrescer o desejo de sedimentar a existência dos sobressalentes.
0 sr. Stawiarski procura atrair colonos poloneses. Por essa razão encontra-se com freqüência no vizinho Estado. Para os colonos, um diretor tão distinto e inteligente é uma sorte grande, tanto mais que ele é um polonês. 0 único empecilho do desenvolvimento de Grão Pará são os botocudos, em vista de seus ataques, e o clima, que é quente e oferece dificuldades para a aclimatação dos nossos, às culturas tropicais. Essa colônia não "cairá", tornar-se-á modelo no cultivo do arroz, cana-de-açúcar, etc... Todavia não sei se o sr. Stawiarski conseguirá trazer maior número de imigtrantes.
Eles pereceriam como gota d'água no mar de italianos, brasileiros e alemães, que os cercam.... Não é fácil prever a resposta a semelhante questionário.
Grão Pará situa-se em clima magnífico e numa bela posição geográfico em meio a montanhas. Deixei-na com saudades, depois de alguns dias. Dirigi-me a cavalo fornecido pelo sr. Stawiarski e acompanhado do fiel companheiro Dymaj a colônia westfaliana do Braço do Norte. Passamos pelas proximidades de um rio que fora denominado "Warta" pelo senhor Stawiarski. Reinam esperanças de que não somente o rio "Warta" atestará a passagem dos poloneses pelo setor que visitamos...
Após um dia de viagem por caminhos serranos, por uma região povoada e bela, chegamos a colonização dos westfalianos Braço do Borte. Admirava a pujança dos bananais, altos de um andar e meio e plantas resinosas que em muitas ocasiões passam por verdadeiras arvores.
A bananeira é uma planta que se compõe de enormes folhas, que praticamente nascem do solo. 0 centro dessa alface monstruosa ou repolho, do qual nasce um talo encurvado de proporções gigantescas, se transforma em banana - fruta. Depois do florir do talo, as frutas parecem um enorme cacho de uva, como se estivéssemos numa terra de promissão, que duas pessoas mal podem carregar. Com o correr do tempo a flor transforma-se em "meias-luas", num total de 20 ou 30, plantadas em derredor do talo. Aos poucos vai-se inclinando em direção da terra, devido ao peso. A fruta madura tem o compramento de alguns centímetros, e mede 2 a 3 cm. de diâmetro. Sua casca é fácil de remover e oculta uma fruta doce, farinhenta e com gosto que lembra as balas inglesas.
As bananeiras podem formar sebes eficientes, não permitindo a passagem de nenhum animal de criação. Essa planta é considerada joio, em vista de sua rápida multiplicação, A bananeira produz uma semente, como se fosse feijão lilás-escuro-cinzento, oculto numa noz espinhosa, que congrega 8 ou 16 sementes. Destes grãos pode ser extraído um célebre óleo.
Não me encontrei com o pe. Chylinski. Enquanto o aguardava, e entrei conversação com um colono letão e com os alemães,
0 letão estava apegado a sua nacionalidade, mas indiferente quanto á libertação do país das mãos dos inimigos.
Estava impressionado com a potencia da Rússia e Alemanha. Suas energias não iam além de umas orações para que sua nação alcançasse a liberdade... Seus vizinhos em Braço do Norte conservam características de dependência do tzarismo. Conserva fotografias da família do tzar e dos generais russos nas paredes da residência. Conforme a assertiva do meu amigo letão, esses símbolos externos correspondiam aos sentimentos que nutrem interiormente. São simples, vício de rotina, um costume , embora estranho. Ele mesmo traiu os sentimentos afirmando que os letões deveriam unir-se aos poloneses, como uma força fraterna.
Os letões não participaram ativamente da revolução de 1893. Não brincaram, afirmando que não receberiam nem os federalistas, nem os governistas, mas comprometeram-se a defender o seu gado. Os esbirros militares, pertencentes ao exército oficial, desprezando os estrangeiros, começaram a roubar seus bens. 0 assovio de uma bala pôs por terra o primeiro valentão, que se aproximou das reses. Os demais desapareceram. A partir deste momento nao foram perturbados os nobres letões. Segundo dizem, os alemães tiveram semelhante atitude, em Blumenau. Se os poloneses tivessem tal atitude em todas as colônias, com certeza teriam evitado todo o perigo de guerra. A falta de organização e entendimento, foram os responsáveis pela falta de qualquer defesa.
Os alemães westfalianos pouco me interessaram. Passei longas horas em confabulação com o proprietário da venda, onde me havia hospedado, bem assim com o professor da escola alemã. Os alemães oriundos da Westfalia falavam fluentemente o Hochdeutsch. Causou-me impressão sua
pela língua materna, pouco literária e simples, conhecida como "Platdeutsch ". Em sua palestra animada e sincera notei isto. Essa língua é semelhante ao holandês, bem mais do que o eslavo ao polonês, ou a "Langue d'oc" na França ou o catalão na Espanha. È perseguida e sufocada de cima, em todas as repartições, júris, literatura e publicidade. Não há nenhum jornal nesse dialeto na Alemanha. Existe um periódico na América do Norte. Não existe nenhum professor no Noroeste da Alemanha, onde 20 milhões servem-se desse dialeto. É curioso que nem o clero a emprega para difundir a palavra de Deus entre os pequeninos, embora sejam os mais numerosos. O próprio partido Social Democrata que procura encontrar apoio nas massas, não a usa. Em circunstancias históricas diferentes esse milhões formariam uma potência holandesa e poderia ter lugar na Alemanha uma questão semelhante à que existe entre a Polônia e a Rússia ou a “Litwomańska”.
Cedendo-me um cavalo e guia, o pe. Chylinski permitiu que partisse. 0 caminho percorrido até alcançar a próxima estação ferroviária não tem nenhuma particularidade digna de nota. Era o prolongamento do panorama com belas vistas e vegetação exuberante, quase tropical. Entre as inúmeras impressões remanecentes de minha permanência na América, a travessia do rio permanecera para sempre. Julgando-me mais sagaz do que o meu guia, não segui fielmente suas pegadas, pois, vendo claramente o fundo do rio, um pouco mais acima, pensei que fosse mais raso. A pouca profundidade de nada valeu, pois a correnteza era tão forte, que carregou o meu cabalo e mergulhou até a cabeça. Acompanhei-o, caindo até o pescoço na água e bebendo tanto de H²0 , ao tombar da sela. Mal me podia segurar ao pescoço da cavalgadura. Ao cair da sela, quase voando, procurei alguma coisa, onde me pudesse amparar, mas somente encontrei a sela. Essa minha queda foi a minha salvação. 0 animal firmou as patas em terra firme, e desta forma alcançamos a outra margem do rio. 0 sol causticante do mês de janeiro a junho na Europa, encarregou-se de secar as roupas e os pertences. Foi rápido, em vista de estarmos em pleno meio-dia, embora estivéssemos completamente encharcados. A partir do leito do rio, galgamos uma ladeira, onde se encontra a estação ferroviária.
Aguardei o trem durante uma hora e parti por caminho já conhecido até Laguna. A breve palestra que mantive com um sacerdote alemão, em Tubarão revolvia a minha mente. Falei com ele em alemão. Não podia conceber que não fosse um cidadão de sua terra. Encontra-se a postos em meio a gente semibárbara e desconhecida, bem como entre os paupérrimos poloneses, que, qual nus entre urtigas, alegram-se quando algum estrangeiro domina sua língua.
Há algumas dezenas de anos não existia a cidade que hoje conta com 6.000 habitantes. A região inteira era habitada por índios botocudos, dos quais remanesceram muitos cemitérios. Eles afastaram-se da civilização européia, retirando-se para os sertões. 0 arqueólogo encontra excelente campo, inexplorado até o presente. Alguns alemães fazem aqui pesquisas.
A estrutura ôssea do índio distingue-se por uma grande robustez, a ossatura é grossa, de tal forma que e difícil de acreditar. Com poucos recursos poderiam obter-se grandes escavações indígenas e enriquecer museus. Basta para tanto estabelecer relações mais estreitas com o sr. Ignácio Kwiatkowski. A baia de Laguna é muito segura e aqui aportam navios de passageiros e carga com três metros de profundidade. Imbituva é mais funda, mas menos segura. Trata-se de uma cidadezinha, situada a 30 km ao Norte. Até ali chega o trem, como local para exportação de carvão de pedra das minas da região de Tubarão. Com a finalidade de transportar o carvão, os trilhos da estrada de ferro foram conduzidos até o sopé da serra do mar. Estação das Minas. As minas encontram-se as margens do Rio Bonito, calculando-se em 4O milhões de toneladas, que poderão ser exploradas durante 129 anos, se durante um ano de 300 dias, forem retiradas mil toneladas diárias. As reservas das margens do Rio Branco são calculadas para 128 anos se forem retiradas 300 toneladas diárias,
A Companhia inglesa proprietária das minas, construiu também a via férrea. Os negócios não apresentam muitas vantagens. As tempestades costumam alagar as minas e impossibilitam a sua exploração. Ainda que o carvão seja exportado por Imbituva, Laguna não deixa de ser centro importante como entreposto de transporte de produtos para o interior, como por exemplo Tubarão. Exporta-se milho, feijão preto, arroz, cafe (em pequena escala), amendoim, fumo, mandioca, especialmente para a França e Estados Unidos, couros e crina. A especialidade do sr. Kwiatkovski é exportar orquideas para a Inglaterra e França, como mencionei acima.
"Laguna", o barco aguardado, veio, adentrando a joia baía, com horripilante assovio, como se fosse um animal apocaliptico. Depois do meiodia cheguei em Desterro, após ter-me deleitado com as orlas escarpadas, tanto da terra firme, quanto da ilha de Santa Catarina, em plena luz do mês de fevereiro. A ilha torna-se visível quanto mais nos aproximávamos da capital catarinense.
Na mesma noite encontrei-me na casa do sr. Szczepanski. Ali reinava um ambiente cosmopolita. Encontrava-se um prussiano socialista que insistia em chamar-me de ministro e dizer horrores sobre o governo prussiano.
Os italianos cantaram em coro, imitando seus padres no canto das "Completas". Passei os dias na hospitalidade de José Szczepanski, aguardando a chegada do barco, para rumar ao norte. Atravessamos a baía sul, em direção norte, passando ao largo de costas montanhosas, estranhamente recortadas. 0 nível das águas estava baixo. 0 navio deixava apôs si uma faixa escuro amarela, pois a hélice revolvia a água, bem rente ao fundo do mar, remoendo a lama. Poucas horas depois desapareceu a ilha e pelo movimento do navio percebemos que adentramos em alto mar, deixando o estreito. Afastamo-nos do litoral e só nos aproximamos novamente quando era noite. A costa era escarpada e o guia conduziu a nau por entre rochas e morros. Fizemos um grande semicírculo para adentrar na lagoa, em cujas margens encontrava-se a cidade de Itajaí. A escuridão havia encoberto tudo e mal pudemos vê-la. Quando pusemos os pés em terra firme, depois de saltar por sobre os barcos estacionados, já era noite. Essa travessia por sobre os barcos era secundada por tábuas colocadas, como pinguelas e a altura até a água não era pequena. Foi um milagre ninguém ter caído, morte seria certa na escuridão. Paguei caro a galanteria a uma matrona brasileira, que portava um filho em seu braço direito, enquanto segurava-no pelo esquerdo. Paguei com a perda de um velho chapéu de palha essa aproximação romântica e agradável...
Em Itajaí passei a noite, cercado por um grupo alegre de brasileiros bêbados. Apesar dos avisos dos mais sãos de que todos somos cavalheiros, sumi furtivamente deste meio.
No dia seguinte palestrei em português com um ancião para quem havia trazido cartas de apresentação, chamado Liberato Pereira, tio do chefe da colonização no Paraná. Narrou-me muitas curiosidades, dentre os não quis, que os alemães constituem a maioria da população nos setores de Brusque e Blumenau, esta pertence aos brasileiros e italianos.
Itajaí é uma cidade brasileira, com pequena mescla de alemães. É espalhada, como todos as vilas principiantes no Brasil. Não tem nada de típico ou característico.
No dia seguinte parti Itajaí acima, num pequeno barco. A correnteza não é forte, embora o leito seja estreito e tortuoso, como acontece com todo rio das montanhas.
As barrancas planas são recobertas de vegetação viçosa é a relva e pujante. Ao longe pode ser divisadas lombadas. Chegamos ao entardecer em Blumenau.
É uma cidade quase exclusivamente alemã, fundada em 1852 por Dr. Herman Blumenau, vivo ainda e residente na Alemanha. Fundou a cidade a custa de suas expensas. Os alemães se queixam que o fundador não cuida da colônia, mas visa tão somente seus interesse e lucros particulares. A vila possui 20.000 habitantes e a cidade conta a quatro mil almas.
A colônia é próspera no setor agroindustrial e tornou-se independente, o que significa que veio a ser município com administração e autoridades autônomas. Seu acesso ao mar é feito pelo rio Itajaí. Exporta em quantidade produtos agrários e manufaturados. Possui uns 400km. de estradas balidas de rodagem. Sua exportação vai de 1,5 a 2 milhões de mil réis, proveniente de açúcar (800 toneladas), cachaça (4000 hectolitros) , milho (1,5 milhão de litros), mais de 1,5 milhões de kg, de farinha de mandioca, 1 milhão de kg, de batatinha, 150 a 200 mil kg de feijão preto. Possui 200 pequenas fábricas de açúcar, 100 moinhos de mandioca, 50 de milho 20 de arroz, 40 serrarias, 20 olarias, 10 fábricas de cigarros, alguns estabelecimentos que fabricam sabão, 10 cervejarias, 5 fábricas de vinagre, algumas de vinho, algumas de velas, de manteiga e margarina. A região possui alguns milhares de cabeças de gado, sendo que outros animais domésticas ultrapassam o número de 30 mil, incluindo 3 mil cavalos e uns 300 muares. Os alemães neste setor constituem a metade da população, uns 20.000 habitantes, causando a impressão de que seu número fosse bem mais elevado, por deterem em suas mãos o comércio e a indústria. Os poloneses e italianos, recém vindos, são pobres. 0 setor de Blumenau é mais ou menos como Lucena, Rio Claro, Prudentópolis, onde, certamente depois de uns 40 ou 50 anos o elemento polonês desempenhará papel idêntico ao que faz hoje o alemão, em Blumenau.
Detive-me em hotel alemão e com dificuldade encontrei poloneses. Finalmente encontrei-me na casa do mestre de sapateiro, Sr. Wenk, oriundo de Varsóvia. Convidou-me para hospedar-me em sua casa. A ele atribuo não só a hospedagem mas a visita e contatos com os poloneses, disseminados neste setor. Montando seu cavalo e em sua companhia visitei quase toda Blumenau. Foi um ótimo colega, auxiliar e conselheiro, bem como o sr. Kasprowicz de Poznan. Homem inteligente, jovem e culto, empregado numa das melhores lojas da cidade, tornou-se verdadeiro guia numa das partes de minhas visitas. Trata-se do Senhor Walkowski, que na minha opinião é o homem mais ativo entre os nossos em Blumenau e seus arredores.
Na mesma oportunidade visitei o sábio da localidade Frederico Müller. Trata-se de uma personalidade singular, amante da liberdade e da natureza. Ofereceram-lhe cátedras e outras honrarias nas universidades brasileiras. Rejeitou todas. Alcançou uma idade provecta, mas frutuosa no campo científico. Andava descalço, trajando roupas de lã (calça e camisa). Não conhecia outra vestimenta. Alimentava-se principalmente com feijão preto. Narrou-me que havia feito uma experiência, alimentado-se durante 4 meses exclusivamente de feijão. Afirmou que jamais havia se sentido melhor. Isto confidenciou-me depois que lhe afirmei que havia feito semelhante experiência durante duas semanas. Cansamos de trocar ideias e estranhar porque semelhante alimento não é introduzido na Europa, tendo em vista seu baixo preço, se comparármos com a batatinha. F. Müller não parece nenhum excêntrico, nem amalucado, mas uma criatura ponderada, com maneiras cativantes. Durante a revolução de 1893, simpatizava com os federalistas. Quase foi morto com outros 12 prisioneiros. 0 sábio preparava-os para a morte no presídio, dizendo que em breve terá lugar o jogo do bolão. Em pouco tempo surgirá uma bala entre nós... não chegou a isso. Quando me despedi do respeitável ancião e sábio não passou pela mente a suspeita de que daqui a um ano não estaria mais entre os vivos. Morreu de uma fístula mal cuidada no pé. Este mal arrebaria qualquer jovem. Os alemães afirmam que Müller forneceu as principais bases para a teoria evolucionista a Darwin, quando este visitou a América Latina. A exuberante natureza brasileira teria aberto os seus segredos, desconhecidos até então de todos. (Johann Friedrich Theodor Müller, conhecido como Fritz Müller - Veja: O amigo que Darwin tinha no Brasil )
Pelas 10 horas partimos para Massaranduba, colônia polonesa de 200 famílias, onde chegamos a noite. Pela estrada batida, passamos ao largo de belas aldeias de colonização alemã; toda a região é pitoresca, plaina em trechos, mas na maioria montanhosa. Ao findarem as serras, nem sempre nos aguardavam estradas sofríveis, em sentido europeu. Em todo o caso eram as melhores que conheci no Brasil. Viajamos por entre campos ou florestas densas, semelhantes a jardins de estufa da Europa, que são realmente as matas virgens destas paragens, completamente despovoadas.
Em Massaranduba ficamos hospedados na residência do sr. Jakubowski. É professor da escola e na realidade é tudo. É professor, pai espiritual e médico. Ele ensina, cura, leciona na capela, construída sob sua inspiração pelos colonos, faz palestras e preleções - conseguiu uma situação de confiança tal entre o povo como se fosse um sacerdote. É culto e inteligente. Sob este prisma é o primeiro que conheci entre os poloneses de Santa Catarina. 0 lituano casado, nem sequer se dá conta como é útil à causa de nossa gente no campo da atividade e através do exemplo. Se cada colônia tivesse um Jakubowski, com facilidade poderia ser forçada uma liga comercial - sul polonesa, realmente influente e poderosa. A ligação com a mãe pátria igualmente estaria consumada; seria fácil estabelecer laços comerciais, enriquecer os nossos museus com amostras da flora e fauna dos lugares habitados por poloneses, fundar nossas sociedades, uniões, bibliotecas e escolas.
Massaranduba, nome dado à colônia, é uma das maiores árvores brasileiras. Em Pará, estado tropical, atinge 100 pês de altura a existe em quantidade. Em Santa Catarina é um pouco menor, existente em pequena número, é uma árvore ordinária e produz leite que é consumido no Pará. Quando seca é uma espécie de "Gutaperka"....
A Colônia consta de 200 famílias, oriundas do Reino. Trata-se de uma das levas do movimento emigratório da Galícia, nos anos de 1890-1891, fase conhecida, como a "febre brasileira". Encontra-se cercada por elementos estranhos, gente pouco esclarecida, proveniente de una país escravizado.
Eis a razão porque inicialmente não está em condições de explorar a natureza e estabelecer os laços comerciais. Não se queixam em demasia. Nas proximidades há colônias mais significativas de italianos de Garibaldi e húngaro alemães, como em Jaraguá, situada na direção de Joinville. Em Massaranduba ou seus arredores, estabeleceram-se algumas famílias alemãs do Reino. Causaram-me a impressão de estarem apolonizados. Ouvi de seus lábios queixas amargas contra o Brasil e sentimentos de saudade quando relembrando sua terra natal. Falavam alemão e polonês ao mesmo tempo. Nutriam amor e saudade pela Polônia e só não retornavam por causa dos altos custos da passagem. Suas famílias eram numerosas e não tinham certeza, quanto a sua sorte na Europa, que os aguardaria depois do retorno. Estes são os únicos empecilhos que os impõem de retornar a terra onde nasceram.
Passei dois dias na hospitalidade do sr. Jakubowski. Os poloneses reuniam-se em grande número na construção em fase de acabamento, que servia de capela e escola. Ali cantavam sob a direção do mestre. Fui apresentado, fiz uso da palavra, relatei o que se passa na pátria distante, apresentei as finalidades da Companhia Comercial e Geográfica, que me enviou em missão até aqui, respondi perguntas, estimulei a fundação de sociedades, escolas, bibliotecas e companhias.
No dia seguinte rumamos em direção de 3 de janeiro (data histórica do Brasil). Ali encontram-se algumas dezenas de imigrantes do Reino, entre os quais a irmã do sr. Walkowski. Um grupo mais numeroso de ambos os sexos reuniu-se a fim de dançar durante a noite inteira. Tomei parte, de todo envolvido por um sentimento místico ao ouvir os acordes da música polonesa que se espraiavam pelas selvas brasileiras. Abraçava as meninas polonesas para dançar.
No dia seguinte deixamos a linha e retornamos a Massaranduba. 0 caminho serpenteava por entre a floresta virgem. Tive a impressão de me encontrar numa estufa experimental. Chamaram a minha atenção as folhas de diferentes coloridos... de um lado eram marrons, de outro violetas ou vermelhas. Era realmente um infindável jardim tropical, cerrado e multicolorido.
A minha viagem seguinte foi feita em companhia doa senhores Wenk e Kasprowicz em direção oposta - o Oeste. Saindo de manha, sem nos deter, paramos pelo meio dia em Indaial, um povoado considerável de alemães, parecendo-se muito com uma cidade. As construções eram vistosas, de material e causam a impressão de que se está às margens do Reno.
Lá encontramos poloneses e hospedamo-nos da residência do sr. Böm, um arvoeiro. Seu nome soa alemão, mas tem um coração polonês, toda sua família, parentes e vizinhos são poloneses. Não tenho condição de estabelecer um paralelo de nossa situação em relação aos habitantes alemães.
Cavalgamos durante a tarde inteira pela linha chamada "Polaquia" até Sandweg, habitada por poloneses da Prússia Oriental, e germânicos da Pomerânia. A linha 'Polaquia - Polaki em alemão - foi colonizada por prussianos e localiza-se numa belíssima canhada às margens de um rio que desemboca no Itajaí. Saciamos a sede na casa de um patrício que nos ofereceu água, com vinagre e açúcar, néctar divino para quem está sedento. Rumamos a esquerda para uma descida até Sandweg, onde nos hospedamos na residência do abastado polonês, Alexandre Tarnowski.
Esta família possui uma balsa. Ali reuniram-se os irmãos e famílias vizinhas, algumas dezenas de pessoas ao todo, de modo que a casa ficou repleta. Antes do cair da noite visitamos sua propriedade. Fiquei impressionado com o tamanho da área de arroz por ele cultivada. Parecia-me uma grande plantação de cevada. No meio da mata encontramos uma árvore cortada, de cujo seio latejava uma espécie de gordura em quantidade, semelhante a óleo. Segundo dizem, pode ter a mesma utilidade que o óleo de oliveira. A conversação teve início com o pôr do sol. Estavam presentes a família de Tarnowski e inúmeros convidados.
A nossa palestra foi alegre e séria ao mesmo tempo. No dia seguinte, acompanhados da família Tarnowski, rumamos para a Grande Waranów. É uma aldeia cidade semelhante a que existem na Baixa Silêsia. Fomos recepcionados pelo senhor Höszel. É um galiciano, e assim denominou-se quando o interroguei se era polonês. É um comerciante abastado, goza de grande estima entre os patrícios, graças a sua seriedade. Falava fluentemente o polonês. É casado om uma alemã e toda sua família é germânica.
Retornamos a Blumenau, via Indaial borrifados por uma chuva verdadeiramente tropical, que despencou ao cair da tarde.
As colônias de Blumenau onde habitam os poloneses, formam os seguintes grupos:
1- Massaranduba - Braço do Norte, 3 de Maio, 7 de Janeiro. Existem ali mais de 200 famílias, se aditarmos os luteranos, que são poloneses com nomes alemães.
2- Benedito Novo, Santa Maria. Esta última é a mais próxima do Paraná e da colônia São Bento. Encontra-se habitada por poloneses e letões. Nesta região encontram-se as povoações de Tigerbach, Anderbach, Santa Rosa, Santo Antônio, Piranga e Pinheiral. Em algumas delas os alemães se retiraram porque os poloneses os forçaram a santificar os domingos, ou seja proibindo-lhes trabalhar nestes dias.
3- Agrupamentos na direção de Joinville e do Mar, rumo Noroeste: Rio Cedro, Rio Cunha, Rio Ada, Rio Josefina, Rio Joana, Rio Carolina, Rio Miliones (aqui prevalecem os húngaros de fala germânica), Rio Garibaldi (predominam os italianos) e Rio Erta, visitada por botocudos.
4- Sandweg, Poláquia, Grande Warnów e Pequeno Warnów.
5- Russland - onde se encontram os alemães da Rússia me os lituanos em
Silberach.
Silberach.
Maiores detalhes sobre as colônias podem ser obtidas com os senhores Jakubowski e Walkowski.
Ao visitar as redações dos jornais Blumeneue Zeitunjg e Urwaldobote, convenci-me de que os alemães sentem-se isolados de seus patrícios europeus. Sentia uma espécie de inveja nas palavras: "0 senhor veio visitar os seus compatriotas e o nosso grande embaixador nem se dignou chegar até nós, em Blumenau. Ninguém aqui nos visita, como se não existissem alemães em Santa Catarina. Vocês poloneses cuidam muito mais dos seus...'
Deixei a hospitalidade do sr. Wenk e segui em barco até Itajai. Exatamente, no momento da partida tive oportunidade de conhecer uma proprietária distinta. Possuía pomares e fazia comércio de frutas. Fui presenteado com alguns abacaxis excelentes. No meu modo de ver, é o rei das frutas no mundo. É saboroso, suculento, com forte odor, que antes não tivera oportunidade de degustar. Na Europa o ananás é um pouco azedo e duro. 0 abacaxi brasileiro desmancha-se na boca até o caule central.
Depois de algumas horas de viagem, encontrava-me em Gaspar, localizada na bifurcação dos riachos Gaspar Grande e Pequeno. Ambos desembocam no Itajaí.
Fui alvo da hospitalidade do irmão do sr. Höschel, abastado comerciante e homem que goza de grande conceito na região. Fala fluentemente o polonês, mas sua família é inteiramente alemã. Vi que ele devotava amor à terra Natal - Galícia. Todavia nutria pouco sentimento de polonicidade. Com certo sarcasmo perguntava-me se na Galícia, ainda se canta "Jeszcze Polska nie zginela..." (A Polônia ainda não pereceu...). Afirmei-lhe que mais do que em qualquer outra época ... Causou-me a impressão de que está sob forte influência dos padres franciscanos. Não lhes poupava elogios. Entretanto a extraordinária cordialidade com que me cercou, fez com que me despedisse dele como se fosse o melhor dos poloneses.
Apesar das prevenções do proprietário, parti depois do meio-dia numa carrocinha em demanda de Brusque, sedo do setor vizinho de Blumenau. Nuvens escuras cobriam o firmamento e em poucos momentos tive que prosseguir a viagem em meio a chuva torrencial, molhando-me até o último fio. Atingi o local colimado em plena noite.
Fui á residência do conhecido comerciante, sr. Börtner do qual me havia falado o velhinho em Itajaí, que não era nenhum alemão, mas polonês. Saudou-me em língua germânica, demonstrando ser alemão da galícia, homem que desconhece a língua de sua pátria de origem. Durante os dias que ali passei referia-se a nós poloneses, mesmo diante de alemães. È natural de Foninka, mas radicalmente germanizado, quer no tocante à língua quer quanto ao aspecto social.
Brusque mal merece o nome de cidade. 0 Governo estadual não vê com bons olhos este setor...Toda a proteção recai sobre Blumenau, que possui estradas, isenção de impostos, colonização privilegiada, cujas reivindicações são ouvidas com agrado.0 Governador Hercílio Luz trata Brusque como madrasta. Existe grande falta de estradas. Por esta razão o progresso da colonização aqui se desenvolve vagarosamente. Muitas colonias simplesmente estão desaparecendo. Os colonos, impossibilitados de levar seus produtos agrícolas as feiras maiores, dependem da boa ou má vontade dos intermediários alemães e italianos. Estes os exploram sem piedade, como não presenciei em lugar algum do Brasil. Formam eles entre si um convênio, assim chamado "ring". A falta de comunicação impede que sejam os produtos levados as feiras maiores de Brusque ou Itajaí, onde poderiam vender os produtos, como milho, ovos, miudezas, toucinho, laticínios, etc... Os colonos nunca chegam a ver dinheiro. Veem simplesmente as mercadorias que lhes são impostas pelos "vendeiros". Têm-se a impressão de que o colono não conhece a cor do dinheiro.
Sucedeu que um proprietário, habitante, há anos no Brasil, mostrou-se completo desconhecedor da moeda desse país... Por um pequeno favor exigiu uma recompensa. Dei-lhe um mil reis. Ofendeu-se dizendo que era muito pouco. Quando lhe dei uma moeda de meio mil réis aceitou e até me beijou a mão de alegria.
Os colonos depois de alguns anos ficarão envergonhados, pois nadarão em abundância de alimentos e não terão o que vestir. Por essa razão abandonam as colônia e vão em busca de emprego. Neste setor existe um trabalho dos especuladores alemães, pois lhes interessa que os campos se despovoem, uma vez que estão situadas em florestas exuberantes. Os especuladores cortaram a madeira das propriedades abandonadas e as levam para comerciar. 0 pobre colono não está em condições de beneficiar-se destas riquezas. No local da colônia em decadência, surge a colônia industrial, serrarias, com pilhas de madeira, ripas, vigas, etc. Os colonos frequentemente tornam-se operários nestas.
Com um destes alemães fiz um passeio de dois dias pela colônia Lageado, cujo caminho conduz por porto Franco. Para ali demandam os colonos de Lageado, onde trocam seus produtos por mercadorias, consideradas as mais indispensáveis. Lá são aguardados como aranhas pelos dois donos das "vendas", de nacionalidade italiana. Aguardam novas levas de imigrantes poloneses. Perguntaram-me se entre eles virão homens cultos e abastados. Em toda parte, mas especialmente em Lageado percebi uma vegetação viçosa e uma localização excepcional às margens de rios semi navegáveis. A natureza parece esforçar-se para demonstrar que é inesgotável; tem-se a impressão de que fala. "Olhai!, a minha fertilidade não tem limites... Arvores, arbustos, relva, acotovelam-se e sufocam-se, fazendo sombra... Vós, homens mesquinhos, ganancioso e discordes não sabeis aproveitar isto"... Enquanto isso ocorre na superfície, o seio da terra aninha minérios.
Pernoitei na residência do companheiro de viagem, um dos especuladores de madeira, de origem alemã. Parti de sua serraria e pilhas de madeira, para uma colônia, distante alguns quilômetros. Visitei, entre outras a casa do sr. Estanislau Brasse, onde me detive por mais tempo. Outrora havia ali 50 colonos poloneses, agora somente há 19. As queixas que apresentavam eram as mesmas em toda a parte: riqueza e fertilidade da terra por um lado; impossibilidade de chegar ao mínimo bem estar por outro.
Retornando a Brusque, desanimei de fazer semelhante viagem a Ribeirão D'Oro igualmente e decadência, em razão dos mesmos motivos acima expostos.
Durante horas tive a oportunidade de dialogar com um alemão, especulador no ramo de madeiras, especialista no setor de Ribeirão D'Oro. A colônia possuía 60 imigrantes poloneses, dos quais hoje subsistem apenas alguns. 0 próprio alemão falou-me que o negócio de ocupar-se com colonização abandonado é muito proveitoso. Depois de meio ano de abandono, o colono já não possui nenhum direito a ela e o governo pode entregar a propriedade a outrem. Este é o momento mais apropriado para cortar o mato, ou seja no meio tempo que vai entre o abandono e a entrega, ou mesmo até que se decida a iniciar uma nova colonização. Pode-se explorar a madeira durante anos sem que haja maiores problemas.
A Leste de Brusque, numa distancia de 9km., na direção de Nova Trento (Alferes) encontram-se 40 famílias polonesas, estabelecidas desde 1875, isto é há 21 anos. Soube a respeito deles por intermédio de operários que trabalham em Brusque. Haviam-me indicado dois nomes: Dubiek a Podjacki. Lastimei profundamente por não tê-los visitado, tanto mais que atravessei a colônia. Palestrando com o colega de viagem, simplesmente não me apercebi de que estava na colônia.
Parti de Brusque em companhia do jovem Kiedrowski, funcionário da casa comercial do sr. Böttner. 0 rapaz, oriundo de Poznan desejou tentar melhor sorte no Rio Grande do Sul. Pela tarde alcançamos a cidade que os alemães denominam de Alferes. Detivemo-nos no hotel de um alemão rico, de Tome Gottfried, chamado em português por Godofrido. 0 Saxão recebeu-nos friamente. É conhecido como homem taciturno e de pouco conversa. Sabia através do pastor Czajkus que era emissário da Sociedade Comercial e Geográfica de Lwów e que tinha intenção de visitar a colônia Pinheira!. Ofereceu-se como companheiro de viagem, proposta esta que por nós foi aceita de bom grado, tanto mais que a estrada oferecia perigos, era ruim nas serras e frequentada pelos botocudos.
Partimos no dia seguinte de manhã. Viajamos, marginando um riacho que corre garboso por entre montanhas. A estrada era excelente até Vacheguna, colônia polono italiana, contando com 30 famílias de cada nacionalidade. Ao deixar a colônia, entramos numa estrada que poderia ter o nome de "quebra pescoço", ora subindo,ora descendo os morros. Certamente no momento em que escrevo ela pertence ao passado e deu lugar a uma estratégica. Mas, ficou para sempre em minha memória.
Do lado direito existem precipícios desnudos ou recobertos de vegetação, enquanto do lado direito escarpas perpendiculares. 0 caminho estava lamacento. Os nossos animais atolavam de tempo a tempo, mal podendo galgar as ladeiras lisas e íngremes. Na descida éramos obrigados a descer para saltar ou rolar alguns metros. Para cúmulo da sorte já era escuro e era impossível ver a altura em que nos encontrávamos. "Fomos forçados confiar nossa sorte aos animais. 0 nosso coração batia, só em pensar que a qualquer instante algum botocudo desferirá alguma flecha aninhado numa das árvore. Consolava-me, sabendo que os selvagens nunca acertam o alvo em movimento e que costumam atacar pelo meio dia e raras vezes ao anoitecer. Em determinado instante o sr.Gottfried tornou-se uma massa amorfa, agitando-se diante de meus olhos, pois cavalgava na vanguarda. 0 companheiro Kiedrowski salta do cavalo e vai em seu socorro. Faço o mesmo, correndo a pé. Ao chegar até o local, percebemos que estava sumindo dentro da terra com a cavalgadura. Agarramo-lo pelas roupas, a fim de salvá-lo do atoleiro e precipício no qual estava caindo. 0 cavalo já havia atolado até o pescoço e não podia ser retirado, apesar de tentarmos segurá-lo pelos arreios, para que não afundasse, ainda que somente a cabeça estava de fora. Gottfrie ao já recuperar os sentidos começou a chorar e chamar pelo cavalo "Schimmel, Schimmel" 0 pobre animal com os olhos esbugalhados, debatia-se para sair do atoleiro. Corria-se grande risco para retirá-lo do atoleiro. 0 proprietário, com lágrimas nos olhos segurava os arreios com ambas as mãos, enquanto olhava compadecido. Era forçoso dirigir-se até a colônia Pinheiral, que ficava um pouco distante. Pusemo-nos a caminho com Kiedrowski deixando Godofredo à sua sorte, quiçá nas mãos de botocudos. Pelas 19 horas a noite desceu. Corremos a pé, pois era impossível viajar a cavalo na escuridão. Meu companheiro, que tinha boa vista ia à frente, procurei segui-lo, quase às cegas, caindo a cada passo em poças d'água, que eram bem mais seguras do que os precipícios. Se não tivesse o meu "guia", certamente teria rolado num destes despenhadeiros, situados a nossa direita. A estrada prosseguia descendo. Somente depois de uma hora de caminhada alcançamos uma baixada, esgotados com o esforço dispendido.
Ali encontramos barracos abandonados que a que tudo indica, pertenceram a colonização, como hospedarias. Batemos, andamos em derredor. Ninguém nos atendeu. Prosseguimos em frente. Uma meia hora depois encontramo-nos em frente a caminhas, pertencentes aos nossos. Eram galicianos e em cada casa moravam da 4 a 5 famílias.
Todos levantaram-se e prontificaram-se em socorrer. Munidos de machados, facões, cortadeiras, cipós e espingardas (essas contra os botocudos) tomamos o caminho de volta. Convencemo-nos de que o sr.Gottfried era muito estimado. Mal tivemos condições de ficar de pé. Indicaram - nos a venda do sr. Felski, da Prússia Oriental. Ali pousamos, ouvindo histórias sobre os botocudos que recentemente organizaram um assalto a Pinheiral, trucidando algumas pessoas. No dia seguinte soubemos que o socorro ao sr.Gottfried veio somente pelas 22 horas e que o mesmo passou desde as 19 horas, segurando o animal pelos arreios, a fim de salvá-lo do atoleiro fatal. Trabalharam, escavando a terra em derredor do animal. Quanto mais terra retiravam, afundava mais, pelas quatro horas morreu. Retornaram a casa com a minha cavalgadura e com o muar do Kiedrowski. Vimos o sr. Gottfried, na manha seguinte, dormindo na residência de outro comerciante da Prússia, sr. Dubialia.
A colônia Pinheiral parece uma porção de terra, como se fosse transplantada do Paraná. Trata-se de pequeno planalto onde reina clima diverso das regiões do litoral catarinense. A temperatura e a fauna são outros. 0 pinheiro chama especial atenção. Habitavam ali 200 famílias de colonos poloneses, atualmente somente existem 50. Retiraram-se por causa dos botocudos. Os remanescentes não tem propósitos de sair. Além dos prussianos orientais, encontram-se ali poloneses e ucranianos e segundo minha observação prevalecem os segundos. A colônia Pinheiral tem perspectivas de progresso, a partir do instante em que realmente começou a construção da estratégica. A comunicação, fator principal do progresso,será facilitada. Várias turmas estão trabalhando na construção da estrada. Entre outros, observei um judeu característico que se distinguia pela aplicação no trabalho, movimentando a pá, cortadeira. Os ucranianos queixaram-se de que os chamam de "moscovitas", "ortodoxos". Manifestei minha desaprovação perante tal atitude e na oportunidade dirigi algumas palavras, aconselhando harmonia, amor e respeito mútuo nesta nova terra, bem como propus a fundação de uma sociedade. Retornamos a Pinheiral, alguns a pé, outros a cavalo.
Em certos trechos a tensão nos era grande, como pudemos passar na escuridão sem cair no precipício. O caminho era realmente barrento. Paramos no local, onde havia atolado o animal do Gottfried. O Cavalo morreu quebrando a espinha dorsal. Estava dobrado com as patas traseiras a pino dentro do lodaçal, o ventre e a cabeça reclinados para o lado... Por isso não afundou mais... Ao meu lado o túmulo escavado e a terra retirada, formavam um monte, como se fora uma sepultura. Retornamos entristecidos a Nova Trento.
Prosseguimos a peregrinação no dia seguinte, e pela tarde encontramo-nos nas costas do mar... em Tijucas... andando por caminhos sempre montanhosos. Aqui não aportam navios, razão porque tivemos que rumar até Desterro, por meio de canoa ou a cavalo enfrentando morros difíceis e cansativos. Preferimos canoa a vela. Os únicos tripulantes eram o pai e o filho, donos do meio de transporte. Afirmaram-nos que num dia chegaríamos à Capital de Santa Catarina.
Envenenamo-nos num restaurante alemão, de forma que sofremos do mal marítimo, antes de nos encontrarmos sobre a água. Partimos com vento favorável pelas 10 horas, rufando em direção sul. A viagem prometia ser maravilhosa. Afastamo-nos longe da costa, penetrando em seguida num longo canal, formado pela ilha de Santa Catarina e por terra continental. A costa escarpada deixava dúvidas quanto à direção do vento: poderá ser tanto do sul, quanto do norte.
Parecia-me que seria do norte. De repente, contrariando as previsões de nosso timoneiro, veio uma onda de vento contrária. Tornou-se impossível avançar. 0 céu se nublou e fomos forçados a buscar a terra firme. Penetramos numa baía deveras segura, mas desabitada.
0 vento nao mudava. 0 canoeiro não aceitava prosseguir por nada neste mundo. A minha paciência havia-se esgotado e disse -lhe que prosseguiríamos com os pertences a pé".., ainda que isto nos custasse dois dias de perambulação. Não se comoveu, dizendo que a vida lhe era mais cara do que o ganho com o transporte.
Boa tarde então li achei legal gostaria de saber um pouco mais sobre o pé. Ossoswski ou de onde tirou informações para eu mesmo procurar.ivan_tudo@yahoo.com.br
ResponderExcluirBoa tarde então li achei legal gostaria de saber um pouco mais sobre o pé. Ossoswski ou de onde tirou informações para eu mesmo procurar.ivan_tudo@yahoo.com.br
ResponderExcluirOi Ivan
ResponderExcluirVocê perguntou sobre o padre Ossowski após ler o livro do Padre e Jornalista Zygmunt Chelmicki no blog http://kieltykabrasil.blogspot.com.br/2013/10/a-historia-contada-parte-i.html
Bem, na verdade não sei nada sobre o Padre Ossowski.
Achei este livro de 1892 que descreve a região sul do Brasil, Paraná e Santa Catarina e como eram ascoisas na época. Achei muito interessante porque moro na região e sou descendente de poloneses. Achei muito inspiradora toda a história. Original: http://czytelniabrasil.blogspot.com.br/2010/09/pezygmunt-chelmicki-no-brasil-segunda.html
Creio que nos registros de igrejas mais antigas de São Bento do Sul deve ter informaçãoes do Padre Osswski.
Em 1896 (quatro anos depois de mencionado no livro) ele batizou uma menina chamada Catarina Bail na Capella de Santa Cruz em Bechelbron. Esta capela fica (eu acho) em Rio Vermelho, entre São Bento do Sul e Jaragua do Sul onde tem uma estação de trem de turismo.
Veja no link: https://coisavelha.wordpress.com/2007/10/
Boa noite,
ExcluirEntão obrigado pela dica vou verificar aqui na cidade tem um biblioteca bem antiga
também:
ResponderExcluirhttps://br.groups.yahoo.com/neo/groups/sc_gen/info?yguid=278187480
É um grupo fechado, de genealogistas, é superinteressante.
Noutro blog é citado João Ossowski: http://paroquiacristoreiabc.blogspot.com.br/
e em outro sobre historia de São Bento é citado
Francisco Ossowski como tendo casado em 1897:
https://saobentonopassado.wordpress.com/category/historia-e-genealogia/page/28/